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Cloroquina x Vacina: é a treva

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Sou um leitor apaixonado de biografias. Mais ainda quando elas vêm recheadas de frases espirituosas dos biografados. Lembrei, não sei por que, de uma frase do escritor norte americano, nascido na Flórida, Mark Twain (1835-1910), pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens. Uma das frases famosas dele e que gosto muito é: "Nunca discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele, e depois vence-te em experiência".

Para esta crônica vou pegar de empréstimo uma frase de uma amiga professora e escritora, santiaguense, muito espirituosa e que tem um vasto repertório de frases. Uma delas é: "vou doar minhas córneas e não vou ver tudo." Essa é a sensação que tenho quando escuto o atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, se manifestar de forma no mínimo inoportuna sobre a importância das vacinas para prevenir doenças. Justo no momento em que no Brasil já morreram 129 mil pessoas em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

Temos mais de 4 milhões de pessoas que se infectaram. Passaram por muito sofrimento junto com seus familiares. É profundamente lamentável que a maior autoridade do país, eleita democraticamente, se utilize de forma populista dessa verdadeira tragédia mundial para se dirigir aos seus eleitores(as). Vale ressaltar que a história política do Brasil é marcada por políticos populistas. Demos uma boa contribuição ao mundo do ponto de vista de populistas que se tornaram ídolos nacionais. Vou citar os três mais notórios: Getúlio Dornelles Vargas (1883-1954), que foi ditador e presidente eleito (1930-1945/1951-1954); Jânio da Silva Quadros (1917-1992), que governou de Janeiro a Agosto de 1961 e Luiz Inácio Lula da Silva, eleito por dois mandatos (2003-2010).

Pois o atual presidente veio enriquecer essa galeria de políticos populistas e, diga-se, com um pé fincado nos ideais fascistas. Coisa que, segundo a história, não é de se estranhar. A maioria esmagadora de ditadores fascistas que o mundo já teve e tem tiveram em comum o fato de se elegerem com discursos populistas de grande apelo popular e depois se abraçaram ao fascismo. Discursos de afronta às instituições democráticas como à imprensa livre, ao parlamento, ao judiciário. Passando pelo negacionismo da ciência e por um desapreço por intelectuais e instituições culturais e, dentre essas, as universidades, é uma característica dos populistas e fascistas.

Umberto Eco (1932-2016), no seu livro clássico Contra o Fascismo (1994), faz referência a uma declaração atribuída ao nazista chanceler da Alemanha, Joseph Goebbels (1897-1945): "Quando ouço a palavra cultura, levo à mão a pistola". Uma das funções das instituições universitárias é, justo, produzir ciência, promover as artes e a cultura, estimular o senso crítico. Daí a desconfiança dos autoritários em relação a essas instituições. Não por acaso, os populistas e fascistas se referem às universidades como um lugar de ajuntamento de comunistas. Os populistas são realmente bizarros. Conta a lenda que o ex-presidente Jânio, que sempre aparecia em público usando paletó preto ou azul marinho, pedia para um assessor jogar talco em seus ombros para parecer que era caspa. Ele não tinha caspa.

Negação da ciência, ataque a imprensa livre, desprezo pelas instituições democráticas, desqualificação das instituições culturais, ataque as universidades, desrespeito ao parlamento, visão extremamente preconceituosa em relação às diferenças, ataque aos Direitos Humanos, machismo tóxico, visão ecológica canhestra, culto as armas, refinado mau gosto, enfim, acho que não precisa falar sobre a cloroquina e sobre campanha antivacina. Afinal, para bom entendedor não precisam 70 linhas para dar o recado. Um vizinho meu, aqui na vila, que votou no atual presidente, me disse: "Professor, votar nesse "home" é uma coisa, continuar apoiando é outra bem diferente". Sábio o meu vizinho. Nem tudo está perdido

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